Antes Que o Dia Termine.


terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Um toque de sensibilidade...

Pequenos gestos. Grandes atitudes. Não faça tempestade em copo d’água. Elogie a si mesmo... E ao outro. Recupere-se rápido. Fale aos outros com amor e respeito. Sonhe. Seja doce, forte e humano. Tenha Esperança. Seja o que você quer ser. Ouse ser feliz.


O Natal é cheio de significados. Cada um encontra uma forma de comemorá-lo, sem perder o que ele tem de especial. É um momento poderoso, cheio de emoção e sentimentos.

Em meio ao corre-corre, problemas e desafios que a vida demanda, o Natal é um oásis, uma oportunidade de começarmos tudo de novo. Esquecer as coisas que para trás ficam e seguir adiante.

Desejo a cada um e a todos um Natal abençoado e um Feliz Ano Novo com a presença maravilhosa de Cristo Jesus em cada mente e coração, trazendo esperança e paz à humanidade.



Nalva Mesquita
Recife-PE











sábado, 20 de novembro de 2010

C'est la vie!

"Há quem passe pelo bosque e apenas veja lenha para a fogueira."

Tolstoi , Léon


Às vezes, pergunto a mim mesma se sou uma pessoa sensível. O que o outro representa para mim? As dores e vicissitudes alheias me interessam? E se me interessam, a que ponto? Sinceramente, não sei a resposta. Ainda. Mas, estou tentando chegar lá. O que percebo, em muitas pessoas que se denominam "sensíveis" é a conveniência que este adjetivo representa para as nossas relações. Somos sensíves com os nossos parentes, amigos, colegas desde que não isso não atrapalhe a nossa existência. Especialmente, se ela - a nossa existência - for, digamos, muito boa. Se for ruim, cheia de complicações, então... sai de perto!
Vivo me policiando para não deixar que as minhas limitações e fragilidades não sejam um obstáculo para ser honesta e verdadeira com aqueles que me honram com a amizade, companhia, afeto... Com aqueles que dedicaram uma parte do seu tempo cativando-me. Para alguns, sou uma rosa preciosa, única. Para outros, espinhos. C'est la vie!
Agora, lamento, profundamente, quando as minhas limitações e fragilidades me impediram de amar aqueles que provaram merecer o meu amor. É que o coração tem razões que a própria razão desconhece. E, em muitas situações, é mais honesto deixar o outro livre para encontrar a felicidade quando somos incapacidades de propiciá-la.
Meu apóstolo preferido é e sempre foi Paulo. Parafraseando uma de suas frases, o ser humano sofre, porque sabe o que fazer e acaba fazendo algo totalmente diferente. Mente e coração, corpo e alma, às vezes não se entendem e sofremos bastante com isso. Fazer o quê? Levantar, sacodir a poeira, debulhar-se em lágrimas, dá uma boa gargalhada e seguir em frente. Não nessa ordem, necessariamente. Mas, seguir em frente é fundamental. Sempre. C'est la vie! Oui.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Quando a tristeza invade o coração da gente....

Há dias e dias.
Em alguns estamos mais felizes, motivados, prontos a enfrentar qualquer problema que apareça na nossa frente.
Em outros (e, em certos momentos, muitos outros), a tristeza nos domina e insiste em nos perseguir, implacavelmente. Por esses dias, tenho experimentado uma tristeza profunda, recheada de incertezas e repleta de solidão. É que, mesmo quando somos nós que iniciamos determinadas rupturas, o processo não se torna mais fácil, não. Às vezes, é até mais doloroso. Sempre fui daquelas que prefere ouvir um não a proferir um. Nunca gostei de me afastar das pessoas primeiro. Prefiro que elas tomem a iniciativa. Sempre achei mais fácil. Todas às vezes (e foram poucas) que tomei a iniciativa, me senti estupidamente culpada. Nos meus ouvidos, sinto os sussuros da minha consciência "É isto mesmo que você quer? Tem certeza? Você sabe o que terá que enfrentar?" Não sei responder, ainda. Penso que, se outras pessoas conseguiram, eu também, sobreviverei. Tenho que enfrentar as minhas batalhas, mesmo sem saber, ao certo, qual será o resultado. Só sei que, com o tempo, as coisas tendem a se ajustar e tudo fica mais fácil. Não adianta inventar muito. Basta um pouco de paciência e um bom travesseiro para segurar a onda (e as lágrimas, é claro).

Indicadores diários:

 Smiley

 Smiley

 Smiley confuso

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

A Jornada...

Quando pensamos em uma jornada, de súbito nos vem a mente um longo espaço de tempo ou um imenso caminho a trilhar, cheio de perigos, problemas emaranhados, confusão e, por fim, um belo final feliz, recheado com um rico aprendizado.
Sempre tive horror a ter que enfrentar uma jornada, durante a minha vida. Mas, a própria vida é uma jornada cheia de aventuras. Da hora em que nascemos até o final da nossa existência, muitas serão as jornadas que devemos enfrentar e ser feliz é, basicamente, saber viver durante os interlúdios.
Decidi que, hoje, está oficialmente iniciada uma nova jornada em minha vida. Não quero passar anos e anos sem saber o que mudou durante a minha existência. Quero "enxergar-me". Ver o que aconteceu dia a dia, mês a mês. Como estarei daqui a um ano? Terei coragem para enfrentar os desafios de uma nova via pela qual optei? Saberei lidar com tanto trabalho a fazer e vários compromissos a cumprir? Direi os "nãos" que deve dizer? O que vou ter coragem de mudar, de deixar para trás e o quanto em frente eu vou seguir?
Por isso, a partir de hoje, vou registrar os acontecimentos marcantes do meu dia e tentar, por 365 dias, avaliar a minha capacidade de seguir em frente.
A minha Jornada começa agora.

domingo, 26 de setembro de 2010

"Eu vivi por um sonho"



Dias desses terminei a leitura de um livro espetacular. Daqueles de tirar o fôlego! Sou uma leitora voraz. Devoro livros e eles me devoram! Permanecem dentro de mim por muito tempo. Fico digerindo, digerindo... Lendo e relendo tudo que aquela leitura representou para mim. São significados e significantes que precisam ser apreendidos e isso leva tempo.

"Eu vivi por um SONHO", de Maria Rosa Cutrufelli, é um romance baseado nos últimos dia de Olympe de Gouges. Para quem não sabe, como eu não sabia, Olympe foi uma mulher, no dizer nordestino "arretada". Explico. Olympe é considerada uma das personagens mais emblemáticas da Revolução Francesa. Ela foi a autora da "Declaração dos direitos da mulher e da cidadã" (14.09.1791). Sou licenciada em História e nunca havia ouvido falar em Olympe, apesar de ter estudado com fervor a Revolução Francesa, um dos fatos mais marcantes da história por ser um divisor de águas, um marco social em pleno século XVIII.

Mas, há uma explicação para não ter ouvido falar nessa mulher-mártir (seu destino foi a guilhotina). É que a história é da humanidade é construída sob o ponto de vista dos heróis. As heroínas nem sempre tem vez e voz. Mas Olympe tinha razão em uma coisa: "as palavras sobrevivem ao sangue que suja inclusive as Revoluções. Não é o sangue, são as palavras que rompem a corrente do destino e introduzem a esperança na História."

A leitura sobre a vida Olympe mostrou a sua coragem para lutar contra o próprio governo que ajudou a constituir, ao perceber que este não correspondia aos seus princípios, quando trocaram o projeto da Revolução - Igualdade, Liberdade e Fraternidade - por um Projeto de Poder, através da implantação de um regime de terror, cujo fim, para aqueles que ousavam se opor, era a guilhotina.
Entre 5 de Maio de 1789 e 9 de Novembro de 1799, o quadro político e social da França foram alterados pelo conjunto de acontecimentos que passou a se chamar de Revolução Francesa. O mais famoso deles, muito conhecido, foi a Queda da Bastilha, encerrando-se com o golpe de Estado do 18 Brumário de Napoleão Bonaparte. O Antigo Regime (Ancien Régime) e os privilégios do clero e da nobreza foram para o brejo.

Tal revolução foi influenciada pelos ideais do Iluminismo e da Independência Americana (1776) e é considerada uma das maiores revoluções da história da humanidade. O mundo mudou depois dela.

Como é de lei, entre os revolucionários surgiram divisões. De um lado, a burguesia, que não queria aprofundar a revolução, apenas garantir as suas conquistas. Tinham medo que o povo quizesse um pouco mais. Por isso, aliara-se aos setores da nobreza liberal e do baixo clero, formando o "Clube dos Girondinos", porque teve como principal representante Brissot, da Gironda. Os Girondinos ocupavam os bancos inferiores no salão das sessões.

Do outro lado, estavam aqueles que queriam mais da revolução, pois entediam que o povo devia ter amis direitos. Eram os "Jacobinos", porque se reuniam no convento de Saint Jacques. Eles eram liderados pela pequena burguesia e apoiados pelos as massas populares de Paris. Ocupavam os assentos superiores no salão das sessões, recebendo o nome de "Montanha". Seus principais líderes foram Danton, Marat e Robespierre. Dentro dos Jacobrinos havia uma facção mais radical, liderados por Jacques Hébert, que queriam o povo no poder.

Existia, também, um grupo de deputados sem opiniões muito firmes, que votavam na proposta que tinha mais chances de vencer. Eram chamados de Planície ou Pântano. Havia ainda os cordeliers (camadas mais baixas) e os feuillants (a burguesia financeira).

Desse momento, surgiram as designações políticas de "direita, centro e esquerda: tendo como referência a mesa da presidência identificavam-se à direita os Girondinos; ao centro, a Planície ou Pântano; e à esquerda, composta pelos Jacobinos, também chamados de Montanha.

Bom, não é difícil imaginar que eles não se entendiam em matéria de política. Os mais radicais, os Jabobinos, reforçados pelas manifestações populares, obtiveram a supremacia na Revolução. O Rei Luís XVI e sua esposa, a famosa Maria Antonieta, perderam a cabeça, literalmente.

Os Jacobinos, com apoio popular e da Comuna de Paris (designação que foi dada ao novo governo local da cidade), assumiram o poder no momento crítico da Revolução.

Agora, eles poderiam dar continuidade ao sonho de uma sociedade livre e igualitária. Será?

Acontece que os líderes, em nome desse "sonho de uma sociedade livre e igualitária", ao chegar no poder esqueceram dos ideais de liberdade, igualdade e fraternidade. Pois é. Acontece nas melhores (e piores) nações.

Muitos pagaram com a própria vida por se opor ao regime de terror implantado por Robespierre, inclusive aqueles que ajudaram a fazer a Revolução, como Brissot e a própria Olympe. Homens que, por anos e anos, denunciaram o rei e luturam pela república foram presos e condenados à morte, muitas vezes por acusações banais. O que o governo temia? Perder o poder recém conquistado.

Olympe participou intensamente da Revolução, mas se opôs ao partido de sangue, à ruína da legalidade e ao regime de terror de Robespierre, tendo como justificativa a defesa dos direitos do povo. Que nobre, não? Não. Não Mesmo!

Apesar de não poder falar quando se apresentada à Convenção (pois é, a Revolução não permitia, ainda, que as mulheres falassem à tribuna!), ela escrevia textos maravilhosos e ousava dizer o que ninguém queria (ou podia) falar: princípios são inalienáveis; a legalidade não pode ser usada como instrumento para perseguir e matar os outros; o poder não é tudo.

Pensei em nós, pobres mortais. Vivemos por sonhos... incontáveis sonhos. Sonhos de crescer, ser feliz e morrer em paz. Sonhos de um emprego, um bom casamento, uma casa (ou várias), carro, amigos, filhos bem educados. Não necessariamente nessa ordem, é bom dizer! Sonhos nem sempre tão grandes como o de Olympe. Mas, sonhos de ter e saber um lugar ao sol, neste mundo tão disputado!

Admiro Olympe. Admiro sua coerência, suas paixões, sua inteligência. Admiro-a, sobretudo, porque ela não se rendeu à possibilidade de viver em glória. Ela se absteve de conviver com o poder, livre, ao custo de ser prisioneira da sua consciência. Preferiu morrer a deixar que os ideais, pelos quais tanto lutou, se transformassem em meras palavras trepidando em bandeiras.

Ao ler sobre a sua vida e trajetória, sinto renascer as esperanças de que é possível defender um ponto de vista, sem abrir mão da nossa fidelidade e dos nossos ideais. Defender projetos e ideais sem derramar sangue. Lutar sem pegar em armas, sem sacrificar vidas, estejam elas de que lado for. Governar, sem se corromper com as glórias que este mundo oferece.

É um sonho. Vivamos por ele, então. Se tivermos coragem.

domingo, 5 de setembro de 2010

Pois os dois se olharam e se apreenderam

"Antes porém tratou de olhar muito bem olhado o seu adversário, respeitando a coragem daquele Príncipe que, mesmo sem saber muito bem por quê, não parava diante de nenhum OBSTÁCULO.

- Agora você vai ver! - ameaçou o Dragão.
Talvez fosse mais certo ele dizer:
- Agora é que eu vou ver!

Porque bem na hora da ameaça, ele acabou de arregalar o olho que ainda estava um pouco coberto pela pálpebra de nuvem.
Aí ele viu o Príncipe. E o Príncipe VIU a Moça.
Que Moça? Ora, a Pastora, você está ficando esquecido? Não lembra que ela tinha ficado por ali para OLHAR e tratar de aprender? Pois os dois se olharam e se apreenderam. O Príncipe viu a Pastora por entre as árvores, na luz do olhar do Dragão, e pensou que de manhã, quando tinha falado como ela na aldeia, nem tinha reparado como ela era tão bonita. Talvez de manhã ela nem fosse ainda tão bonita, porque a verdade é que todos os acontecimentos do dia tinham ajudado muito a Pastora a NÃO ESCONDER MAIS SEU OLHOS E A LEVANTAR A CABEÇA - e ela, como todo mundo, ficava muito mais bonita assim.
Mas, o Príncipe não sabia disso. E pensou que a beleza dela era por causa do olho do luar do Dragão. Aí perdeu a vontade de liquidar o Dragão. E de casar com a Princesa.
Ficou parado olhando a Pastora. Ela olhou firme para ele e perguntou:

- Vossa Alteza não está se sentido bem?
- Nunca me senti melhor em minha vida. A não ser por esta droga de armadura toda molhada.
- Então tira a armadura - sugeriu ela.
- Mas eu preciso dela para lutar com o Dragão.
- Para quê? Para casar com a Princesa e viver feliz para sempre? Para ter sempre um sol eterno?
- Para cumprir minha missão e terminar o que comecei - respondeu o Príncipe, enquanto pensava que, na verdade, não queria saber de coisas eternas nem iguais para sempre.
E FICARAM SE OLHANDO."

(Maria Clara Machado in Uma história meio ao contrário.)

Quando li esse clássico de Maria Clara Machado para a minha filha, fiquei encantada com essa passagem, lida e relida várias vezes.
É que, de vez em quando (ou quase vezes), caimos na tentação de nutri uma visão do outro e do mundo a partir de um reflexo da "posição" que julgamos ocupar na vida.
Passamos a "olhar" sempre tendo como referência o que somos ou o que achamos que somos. Qual o problema? Não é assim mesmo que deve ser? Depende. Julgo que, para amar o outro, como Cristo nos ensinou, é preciso ver além... da posição social, da aparência, da cor da pele, das condições financeiras, do modo de pensar, das opiniões, do credo... enfim, além de nós mesmos, das nossas certezas e verdades "absolutas".

Confesso que, para minha alegria, minha opinião sobre o assunto consolidou-se com a leitura de um livro maravilhoso, que tive o privilégio de ler recentemente: A elegância do ouriço, de Muriel Barbery.

Leitura obrigatória para aqueles que desejam procurar as pessoas, sem renunciar ao encontro, reconhecê-las como seres singulares e apreendê-las. As pessoas não precisam ser o nosso próprio reflexo. Se as enxergamos assim, só veremos o vazio.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

(IM)PERFEITA PARA VOCÊ











"Quando eu ainda era um menino, ocasionalmente, minha mãe gostava de fazer um lanche na hora do jantar. E eu me lembro especialmente de uma noite, quando ela fez um lanche desses, depois de um dia de trabalho muito duro.

Naquela noite longínqua, minha mãe pôs um prato de ovos, lingüiça e torradas bastante queimadas, defronte ao meu pai. Eu me lembro de ter esperado um pouco, para ver se alguém notava o fato. Tudo o que meu pai fez, foi pegar a sua torrada, sorrir para minha mãe e me perguntar como tinha sido o meu dia na escola.

Eu não me lembro do que respondi, mas me lembro de ter olhado para ele lambuzando a torrada com manteiga e geléia e engolindo cada bocado.
Quando eu deixei a mesa naquela noite, ouvi minha mãe se desculpando por haver queimado a torrada. E eu nunca esquecerei o que ele disse:
- Baby, eu adoro torrada queimada.

Mais tarde, naquela noite, quando fui dar um beijo de boa noite em meu pai, eu lhe perguntei se ele tinha realmente gostado da torrada queimada. Ele me envolveu em seus braços e me disse:
- Companheiro, sua mãe teve hoje, um dia de trabalho muito pesado e estava realmente cansada. Além disso, uma torrada queimada não faz mal a ninguém. A vida é cheia de imperfeições e as pessoas não são perfeitas. E eu também não sou um melhor empregado, ou cozinheiro! O que tenho aprendido através dos anos é que saber aceitar as falhas alheias, escolhendo relevar as diferenças entre uns e outros, é uma das chaves mais importantes para criar relacionamentos saudáveis e duradouros.

Poderíamos estender esta lição para qualquer tipo de relacionamento: entre marido e mulher, pais e filhos, e com amigos. Não ponha a chave de sua felicidade no bolso de outra pessoa, mas no seu próprio.

As pessoas sempre se esquecerão do que você lhes fez, ou do que lhes disse.
Mas nunca esquecerão o modo pelo qual você as acolheu e valorizou.
"

Não sei quem é o autor do texto acima, mas o considero uma maravilhosa reflexão para a nossa vida, nossos relacionamentos e nossa capacidade de enxergar o outro "apesar de".


"Não se pede carinho, nem amor, nem atenção, nem tempo a ninguém. Se as pessoas gostarem mesmo de nós, acabam por nos dar tudo." (Margarida Rebelo Pinto, in Pessoas como Nós).

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Você ouve os outros?



"Sempre vejo anuciados cursos de oratória. Nunca vi anunciado curso de escutatória. Todo mundo quer aprender a falar... Ninguém quer aprender a ouvir. Pensei em oferecer um curso de escutatória, mas acho que ninguém vai se matricular.


Escutar é complicado e sutil. Diz Alberto Caeiro que "... não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores. É preciso também não ter filosofia nenhuma."




Filosofia é um monte de idéias, dentro da cabeça, sobre como são as coisas. Aí a gente que não é cego abre os olhos. Diante de nós, fora da cabeça, nos campos e matas, estão as árvores e as flores. Ver é colocar dentro da cabeça aquilo que existe fora. O cego não vê porque as janelas dele estão fechadas. O que está fora não consegue entrar. A gente não é cego. As árvores e as flores entram. Mas - coitadinhas delas - entram e caem num mar de idéias. São misturadas nas palavras da filosofia que mora em nós. Perdem a sua simplicidade de existir. Ficam outras coisas. Então o que vemos não são as árvores e as flores. Para se ver é preciso que a cabeça esteja vazia.



Parafraseio o Alberto Caeiro: Não é bastante ter ouvidos para ouvir o que é dito. É preciso também que haja silência dentro da alma. Daí a dificuldade...



A gente não aguenta ouvir o que o outro diz sem logo dar um palpite melhor ... Sem misturar o que ele diz com aquilo que a gente tem a dizer. Como se aquilo que ele diz não fosse digno de descansada consideração, e precisasse ser complementado por aquilo que a gente tem a dizer, que é muito melhor ...



Nossa incapacidade de ouvir é a manifestação mais constante e sutil de nossa arrogância e vaidade. No fundo, somos os mais bonitos ...



O longo silência quer dizer: "Estou ponderando cuidadosamente tudo aquilo que você falou". E assim vai a reunião. Não basta o silêncio de fora. É preciso silência dentro. Ausência de pensamentos. E aí, quando se faz o silêncio dentro, a gente começa a ouvir coisas que não ouvia.



Eu comecei a ouvir.



Fernando Pessoa conhecia a experiência, e se referia a algo que se ouve nos interstícios das palavras, no lugar onde não há palavras. A música acontece no silência. A alma é uma catedral submersa. No fundo do mar - quem faz mergulho sabe - a boca fica fechada.



Somos todos olhos e ouvidos. Aí, livres dos ruídos do falatório e dos saberes da filosofia, ouvimos a melodia que não havia, que de tão linda nos faz chorar.



Para mim, Deus é isto: a beleza que se ouve no silêncio. Daí a importância de saber ouvir os outros: a beleza mora lá também.



Comunhão é quando a beleza do outro e a beleza da gente se juntam num contraponto. (O amor que acende a lua, pág. 65)."

Transcrito (Escutatório - Rubem Alves)



E aí? Você já parou para ouvir alguém, hoje?




terça-feira, 18 de maio de 2010

De repente 40!!!!!!

Há filmes que gosto de assistir várias vezes. Por exemplo, no filme "De repente 30", Jenna Rink (Christa B. Allen) é uma garota que está descontente com sua própria idade, não é popular na escolar, seus pais ficam sempre no seu pé e o garoto por quem está apaixonada nem sabe que ela existe. No seu 13º aniversário, Jenna foi trancada em um armário e completamente esquecida pelos demais presentes na festa. Triste, faz um pedido: virar adulta de repente, para ter a vida com que sempre sonhou. O pedido se torna realidade e, no dia seguinte, Jenna (Jennifer Garner) desperta com 30 anos. Depois de muita confunsão, ela percebe que, embora tenha tudo que sempre sonhou, não é feliz, está distante dos pais, seu melhor amigo (por quem se apaixonou) está preste a se casar, não tem amigos de verdade etc.



Como é uma ficção, Jenna volta atrás e muda a sua história!
É claro que não vou contar o resto do filme, não é?


Queremos uma vida perfeita! Mas será a perfeição um elemento humano? Há infinitas variáveis e tudo é tão circunstancial na trajetória humana...! Existe tanto e tantas coisas para serem feitas que, às vezes, a gente cansa: temos que estudar, ser bem sucedidos, casar e ter filhos, e os filhos tem que ser educados e tem que estudar, ser bem sucedidos e casar e ter filhos. Nos intervalos, temos que fazer exercícios, ser solidários, cuidar da saúde, preservar o meio ambiente, escolher uma boa alimentação, controlar os gastos e o consumismo, entender de tecnologia, política, arte, cultura, literatura, cultivar amigos, parentes e aderentes, viajar. E isso é só o básico!!!!!!

A um tempo atrás, eu costumava dizer para Deus: "Senhor, o que é isso? Estamos numa armadilha! Viver está me matando!!!!!!


Bom, já passei dos 30 e estou chegando aos 40! Mas, na vida real não podemos voltar atrás e mudar o passado. Consertar os erros cometidos, as "mancadas", as palavras pronunciadas, as decisões tomadas, os caminhos trilhados... Não é tarefa das mais fáceis! Reescrever a história das nossas vidas é tarefa divina, sobrenatural! Porém, Deus escreve a partir do ponto em que o aceitamos como autor da nossa história.



Com o passar do tempo, aprendir uma lição preciosa, sábia e proferida a 2010 anos atrás: viva cada dia, um de cada vez, não se preocupe tanto com o futuro. Você não pode consertar ou controlar os fatos, as pessoas e as circunstâncias relacionados com a sua vida! Apenas administre! Faça o que for possível, mas sem drama, sofrimento e desespero. Busque a serenidade, o equilíbrio, a paz espiritual.


Estabeleça metas e defina prioridades, mas não se sinta um fracasso se não conseguir atingi-las. Não carregue TODAS AS CULPAS (por falar em culpas, sabia que existem, pelo menos, 5 tipos: depressiva, insconsciente, persecutória, delirante e consciente?). A culpa tem uma função importante na nossa vida, mas temos que evitar excessos. Aliás, tudo em excesso prejudica, enjoa e só faz mal! *


Por isso, Deus fez tudo perfeito na natureza! O dia dura, exatamente, o tempo certo para uma pausa, quando temos que parar, dormir, sonhar e acordar renovados pelo sopro da vida, mas uma vez!



* Fonte: Revista Isto é nº 2112, Ano 34, 5/Maio/2010, p. 78-83

sábado, 17 de abril de 2010

Pipoca ou Piruá?






Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho de pipoca para sempre.

Assim acontece com a gente. As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo. Quem não passa pelo fogo, fica do mesmo jeito a vida inteira. São pessoas de uma mesmice e uma dureza assombrosas. Só que elas não percebem e acham que seu jeito de ser é o melhor jeito de ser.

Mas, de repente, vem o fogo. O fogo é quando a vida nos lança uma situação que nunca imaginamos: a dor. Pode ser fogo de fora: perder um amor, perder um filho, o pai, a mãe, perder o emprego ou a saúde. Pode ser fogo de dentro: pânico, medo, ansiedade, depressão ou sofrimentos cujas causas ignoramos.

Há sempre o recurso do remédio: apagar o fogo! Sem fogo o sofrimento diminui. Com isso, a possibilidade da grande transformação, também. Imagino que a pobre pipoca, fechada dentro da panela, lá dentro cada vez mais quente, pensa que sua hora chegou: vai morrer. Dentro de sua casca dura, fechada em si mema, ela não pode imaginar um destino diferente para si. Não pode imaginar a transformação que está sendo preparada para ela. A pipoca não imagina aquilo de que ela é capaz. E, sem aviso prévio, pelo poder do fogo, a grande transformação acontece: BUM!´

E ela aparece como um outra coisa completamente diferente, algo que ela mesma nunca havia sonhado.

Bom, mas ainda temos o piruá, que é o milho de pipoca que se recusa a estourar. São como aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente, recusam-se a mudar. Elas acham que não pode existir coisa mais maravilhosa do que o jeito delas serem. A pressunção e o medo são a dura casca do milho que não estoura. No entanto, o destino delas é triste, já que ficarão duras a vida inteira, não servirão para o plantio nem vão se transformar na flor branca, macia e nutritiva; não vão dar alegria para ninguém.

PS 1: Muitas vezes, pensamos como se fôssemos a última pipoca da panela, mas agimos como piruá! Em Romanos, Cap. 12, Paulo exorta-nos a termos uma atitude de flexibilidade mental. O Senhor faz tudo novo, se tivermos a coragem de sair da "caixa" que construímos para nós e perceber a presença dinâmica de Deus no mundo, e mais do que isso, ser parceiros dEle.

PS 2: Transformar as nossas vidas e a nós mesmos não é uma questão de idade, mas de vontade. Passar pelo fogo, ser pipoca e BUM! Piruá não alimenta, não reproduz, é material descartável. Que nossa vocação seja ser pipoca. Se ainda não somos, temos a fantástica possibilidade de mudar e ser melhores a cada dia.
(Adaptado - Extraído do livro "O amor que acende a lua", de Rubens Alves)